Terça feira – 7ª. Semana do Tempo Comum

humildade_1Amados irmãos e irmãs

“O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão, mas, três dias após sua morte, ele ressuscitará”.

Este Evangelho é o segundo anúncio da paixão, morte e ressurreição de Jesus; e Jesus o faz para preparar os seus discípulos para que não se assustem e nem desistam no momento da dificuldade. Isto serve para cada um de nós hoje; pois quando nos deparamos com situações pessoais ou comunitárias onde somos provados na doença, nas dívidas, nos relacionamentos difíceis e perseguições; geralmente a primeira reação que temos é partir para o embate ou então desistir.

É preciso entender que o Senhor vem em nosso auxílio não com soluções prontas, mas sim com ensinamentos que nos fortalecem como, por exemplo, quando diz: “Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação”. Se suportarmos com paciência sairemos fortalecidos.

Em Deus devemos ser resilientes e não resistentes; pois o resistente é duro e quebra ao passo que o resiliente enverga, dobra, mas não quebra e depois volta a posição normal. O que nos mantém resiliente é a permanência em Deus e o que assegura esta permanência é a oração, o jejum e a caridade. Se não for assim, se depositarmos nossa esperança nas coisas do mundo teremos falsa sensação de segurança, seremos resistentes e quebraremos, rompendo nossa união com Deus.

As três condições que citamos para permanecer em Deus é a chave para seguirmos o precioso ensinamento que Jesus nos dá no Evangelho de hoje, senão vejamos: “Se alguém quer ser o primeiro, seja o último de todos e o servo de todos… Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe; e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que me enviou”. Para servir alguém na gratuidade (caridade) como fez Jesus, é preciso se tornar servo dos pequeninos. Temos a tendência de servir os grandes (poder econômico e político) e desprezar os pequenos e é por isto que Jesus toma uma criança, pois na época de Jesus mulheres e crianças eram tão desprezadas que nem na conta do censo entravam.

Outro perigo que este Evangelho aponta é o da busca de se ser o maior, de ocupar cargos e de ter prestígio e isto vale não só para as coisas do mundo, mas também para nossas comunidades onde muitos de nós ali permanecemos não por causa de Jesus, mas sim do cargo ou ministério que ocupa.

Santo Agostinho bispo e doutor da Igreja no Sermão 340 A para uma ordenação episcopal nos ensina que “Todo aquele que está à cabeça do povo deve em primeiro lugar não esquecer que é o servo de todos, e nunca desdenhar deste serviço, uma vez que o Senhor dos senhores (1Tm 6,15) se dignou pôr-se Ele próprio ao nosso serviço.

Por isso, entre outras virtudes dos responsáveis pela Igreja, o Apóstolo Paulo recomenda-nos a da humildade (1Tm 3,6). Quando o Senhor procurou com palavras fortalecer os seus Apóstolos na humildade, disse-lhes, evocando o exemplo da criança. Foi assim que Ele serviu e que quer que também nós sirvamos: dando a sua vida para nos resgatar. Quem de entre nós pode resgatar quem quer que seja? Fomos resgatados da morte pela sua morte e pelo Seu sangue. Nós, que estávamos caídos por terra, fomos reerguidos pela sua humildade. Agora, devemos fazer a nossa parte pelos seus membros, porque fomos constituídos como tal: Ele é a cabeça, nós o corpo (Ef 1,22-23). Por isso nos exorta o Apóstolo João a imitá-lo, dizendo: “Jesus deu a sua vida por nós; assim também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos” (1Jo 3,16).

Peçamos ao Senhor que nos dê um coração de crianças para que sejamos acolhedores como Ele foi.
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São Gregório de Nazianzo, bispo e doutor da Igreja na Homilia para a Páscoa; PG 36, 624 nos ensina: “O último de todos e o servo de todos”. Responde àqueles a quem os estigmas da Paixão no corpo de Cristo mergulham na incerteza, e que colocam esta pergunta: Quem é esse rei glorioso? (cf Sl 24,8) Responde-lhes que é Cristo, forte e poderoso (ibid) em tudo o que fez e continua a fazer. De fato, achas pouco que Ele se tenha feito humilde por tua causa? Acha-lo desprezível pelo fato de, sendo Bom Pastor, ter oferecido a vida pelo seu rebanho, ter vindo procurar a ovelha perdida e, tendo-a encontrado, a ter levado aos ombros, esses ombros que levaram a cruz por ela, e, tendo-a conduzido à vida do alto, a ter colocado entre as ovelhas fiéis que tinham ficado no redil? (cf Jo 10,11; Lc 15,4) Despreza-lo por ter acendido uma lâmpada, a sua própria carne, e ter varrido a sua casa, purificando o mundo do pecado, para procurar a dracma perdida, perdendo a beleza da sua efígie real por causa da sua Paixão? (Lc 15,8ss; Mc 12,16)
Considera-lo menos por se ter cingido com uma toalha para lavar os pés aos discípulos, mostrando-lhes que o modo mais seguro de se elevarem é humilhando-se? (Jo 13,4s) Causas um desgosto a Deus por Cristo se humilhar, inclinando a sua alma para a terra, para elevar com Ele os que estão vergados sob o peso do pecado? (Mt 11,28) Censuras-lhe ter comido com os publicanos e com os pecadores para sua salvação? (Mt 9,10) Como podes pôr em causa um médico que se debruça sobre os sofrimentos e as feridas dos doentes para os curar?

Na leitura da Carta de São Tiago nos é esclarecido que todas as desordens do mundo vêm das paixões que estão em conflito dentro de nós. Tudo o que é bom ou mal é fomentado dentro do nosso coração. Os momentos de guerras e brigas que têm como consequência discórdias e desavenças entre irmãos são os frutos que daí resulta. Nós mesmos, às vezes pedimos a Deus coisas que têm origem no mal e por isto o apóstolo diz: “Pedis, sim, mas não recebeis porque pedis mal”.

Rezemos com o Salmista: Quem me dera ter asas de pomba e voar para achar um descanso! Fugiria, então, para longe e me iria esconder no deserto. Lança sobre o Senhor teus cuidados, porque ele há de ser teu sustento e jamais ele irá permitir que o justo para sempre vacile! Amém.

Reflexão feita pelo Diácono Irmão Francisco
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: Tiago 4,1-10
Salmo: 54/55
Evangelho: Marcos 9,30-37