Terça Feira – 5ª. Semana do Tempo Comum

27072997_1569609326457620_4580945811692625853_nAmados irmãos e irmãs

“Isaías com muita razão profetizou de vós, hipócritas, quando escreveu: ‘Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão, pois, me cultuam, porque ensinam doutrinas e preceitos humanos”.
No evangelho de hoje Jesus reprova o espírito farisaico: a confusão entre o rigorismo minucioso na observância da moral e da fidelidade a Deus.
Não dormir em cama, com lençol! Soa esquisito esta frase para iniciar esta reflexão, mas fomos buscá-la no livro “A revolução dos bichos” de George Orwell; pois ali havia uma norma para os animais de que não poderiam dormir em cama. Para burlar tal norma o porco colocou uma vírgula e acrescentou com lençol o que mudava completamente a situação, pois assim sendo na cama sem lençol se poderia dormir.
Usamos esta ilustração para melhor entender o que Jesus quis dizer aos fariseus. Eles usavam um mandamento da Lei Mosaica para transformar em inúmeros preceitos humanos que às vezes nada tinha a ver com o objetivo principal do mandamento. Valorizavam demais o acessório e esqueciam-se do principal.
Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Esta frase de Jesus pode ser aplicada a nossa liturgia onde a música, a palavra, o gesto ou a posição do corpo não pode ser mais importante do que realmente significam.
Podemos ver na Igreja como no caso de alguns sacramentos como o batismo e o matrimônio onde muitos são levados por questões de tradição familiar, social, etc.; e sequer sabem do real significado de tais sacramentos.
É a oposição entre lábios e coração; contradição entre dizer uma coisa e fazer outra. Essa contradição é hipocrisia que nos faz abandonar o mandamento de Deus, em nome de preceito puramente humano.
Devemos tomar cuidado para não viver uma piedade falsa onde cumprimos preceitos exteriores como pagar o dízimo, fazer genuflexões, não perder missas de preceito, jejuar e fazer abstinência quando a Igreja manda e, no entanto sermos incapazes de amar o próximo, de ajudar o doente, perdoar quem nos ofendeu, etc.
A lei ou as normas devem me ajudar a aproximar de Deus, não são as normas que produzem a graça de Deus e sim a graça de Deus é que produz disciplina e normas para o homem.
Santo Agostinho bispo e doutor da Igreja no Sermão 155, 6 nos ensina: A lei do Espírito de vida em Cristo Jesus libertou-me da lei do pecado e da morte (Rm 8,2). São Paulo diz que a Lei de Moisés foi dada para demonstrar a nossa fraqueza, e não apenas para demonstrá-la, mas para aumentá-la, e nos levar a procurar o médico: Onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 3,20; 5,20). Porque é que a primeira Lei, que foi escrita com o dedo de Deus (Ex 31,18), não trouxe a tão necessária salvação da graça? Porque foi escrita em tábuas de pedra e não em tábuas de carne, que são os nossos corações (2Cor 3,3).
É o Espírito Santo que escreve, não na pedra, mas no coração; a Lei do Espírito de vida, escrita no coração e não na pedra, esta Lei do Espírito de vida que está em Jesus Cristo em quem a Páscoa foi celebrada em toda a verdade (1Cor 5,7-8), libertou-vos da lei do pecado e da morte. Quereis uma prova da diferença evidente e certa que separa o Antigo Testamento do Novo? Escutai o que o Senhor disse pela boca de um profeta: Imprimirei a minha Lei, gravá-la-ei no seu coração (Jr 31,33). Se a Lei de Deus está escrita no teu coração, não produz medo, mas espalha na tua alma uma secreta suavidade.
Na leitura do primeiro livro dos Reis vemos a cerimónia da dedicação do templo. O questionamento é: Será que Deus poderia mesmo habitar sobre a terra? (v. 27). É a eterna tensão entre transcendência e imanência. Para Salomão, mais importante que o ouro que reveste o altar e as portas do templo, as colunas de bronze e as alfaias sagradas, é a presença de Deus no templo. Daqui todos nós devemos tirar um grande ensinamento: Em nossas liturgias o rito e o que nele se usa pé importante, mas nada pode querer ofuscar a presença real de Deus no meio de nós.

Rezemos com o Salmista: Quão amável, ó Senhor, é vossa casa! Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, e a andorinha ali prepara o seu ninho. Felizes os que habitam vossa casa; para sempre haverão de vos louvar! Olhai, ó Deus, que sois a nossa proteção, vede a face do eleito, vosso ungido! Amém.

Reflexão feita pelo Diácono Irmão Francisco 
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: 1 Reis 8,22-23.27-30 
Salmo: 83/84
Evangelho: Marcos 7,1-13