Sexta feira – 5ª. Semana Comum

Amados irmãos e irmãs27540438_1569626249789261_3002865980896940802_n

“E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: Éfeta! Que quer dizer abre-te! No mesmo instante os ouvidos se lhe abriram a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente”.
Na tradição profética, a surdez e a cegueira são figuras da resistência à mensagem de Deus. Paralelamente, no evangelho, são figura da incompreensão e da resistência à mensagem de Jesus.
Na cura do surdo-mudo, Jesus abre primeiro os ouvidos do homem, depois desata sua língua. Com isso, Jesus coloca o homem em situação de escutar primeiro para depois falar.
Na sequência natural das coisas primeiro se ouve e depois se fala. Notem que as crianças aprendem falar porque ouvem; os surdos de nascença são mudos porque como não ouvem e assim não aprendem falar. Daí o provérbio: “Falar com sabedoria é prata, ouvir com amor é ouro”.
A ordem “abre-te” existe porque há dentro de nós algo fechado. O que é que está muito fechado em você que o impede de se comunicar com os demais e com o mundo? Abra seu coração a quem lhe oferece a amizade. Abra-se aos que necessitam de seu carinho. Abra seus ouvidos e mova sua língua para aqueles que necessitam de suas palavras de consolo e de conforto. Quem tem ouvidos novos e os lábios libertados do mal tem também os olhos abertos para os demais, a mão estendida para os necessitados e o coração limpo para testemunhar o verdadeiro amor.
Jesus toca nos sentidos do surdo-mudo para lhe tocar no coração. Abrir o coração – Éfeta! – é a condição para religar os pontos com a vida. O homem precisa de se abrir a Deus, à sua Palavra, ao encontro com Ele, para poder abrir ao encontro com os outros, ao diálogo, às relações com todos.
Hoje quando se fala tanto na necessidade de nossas comunidades retomar o silêncio lembramos que: quem faz o bem não faz barulho. Como dizia o Papa Pio XI: “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”.
Santo Agostinho bispo e doutor da Igreja nos Discursos sobre os salmos, Sl 103,5-6 nos diz: “Afastando-Se com ele da multidão, Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos”. Deus cura todas as tuas enfermidades (Sl 103,3). Não temas, todas as doenças serão curadas. Dirás que são grandes; mas o Médico é maior. Para um Médico todo-poderoso não há doenças incuráveis. Deixa apenas que Ele te trate, não rejeites a sua mão; Ele sabe o que tem a fazer. Não te alegres apenas quando Ele age com suavidade, o aceita quando corta. Aceita a dor do remédio, pensando na saúde que te vai trazer.
Vede, meus irmãos, tudo o que os homens, nas suas doenças, aguentam para prolongar a vida mais alguns dias. Tu, ao menos, não sofrerás por um resultado duvidoso: Aquele que te prometeu a saúde não Se pode enganar. Porque é que os médicos às vezes se enganam? Porque não foram eles que criaram o corpo que tratam. Mas Deus fez o teu corpo, Deus fez a tua alma. Ele sabe recriar o que criou; sabe reformar o que formou. Só tens de te abandonar às suas mãos de médico. Suporta, portanto, essas mãos e bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios. É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades (Sl 103,2-3).
Aquele que te concebeu para que nunca estivesses doente, se tivesses querido guardar os seus preceitos, não te curará? Aquele que fez os anjos e que, ao recriar-te, te fará igual a eles, não te curará? Aquele que fez o céu e a terra, Ele, que te fez à sua imagem, não te curará? (cf Gn 1,26) Curar-te-á, mas para isso, tens de consentir em ser curado. Ele cura de modo perfeito todos os doentes, mas só se eles quiserem. A tua saúde é Cristo.
Na leitura do primeiro livro dos Reis vemos que o autor sagrado apresenta a divisão do reino como um castigo pela apostasia idolátrica de Salomão. Da confusão entre Jeroboão e Roboão que reduza os impostos. Roboão fica aberta a porta ao cisma político. O profeta Aías anuncia simbolicamente esse fato ao rasgar o manto em doze pedaços. O seu gesto profético é uma advertência e uma denúncia motivada pelas injustiças sociais que Jeroboão herdou de seu pai. O profeta, e a sua ação, são sinal da presença de Deus e anúncio da sua intervenção na história do povo. Trata-se de uma intervenção salvífica, porque Deus não se diverte a rasgar mantos novos, mas é Aquele que faz novas todas as coisas. Este texto mantém ainda hoje a sua atualidade por causa da nostalgia ecumênica que nele percebemos. A divisão do reino davídico deve nos fazer refletir e muito a divisão na Igreja cristã.

Rezemos com o Salmista: Mas meu povo não ouviu a minha voz, Israel não quis saber de obedecer-me. Deixei, então, que eles seguissem seus caprichos, abandonei-os ao seu duro coração. Quem me dera que meu povo me escutasse! Que Israel andasse sempre em meus caminhos! Seus inimigos, sem demora, humilharia e voltaria minha mão contra o opressor. Amém.

Reflexão feita pelo Diácono Irmão Francisco 
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: 1 Reis 11,29-32;12,19
Salmo: 80/81
Evangelho: Marcos 7,31-37