São João Evangelista (festa)

Amados irmãos e irmãs25289415_1524584157626804_481005549276543838_n
“… Então entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao sepulcro. Viu e creu”.
Neste Evangelho vemos que João além de estar aos pés da Cruz do Cristo, aliás, foi o único apóstolo a ir até o fim, João tem a graça de ser testemunha da ressurreição. Aqui já se nota o respeito por Pedro, pois mesmo tendo chegado primeiro ele não entrou no sepulcro.
O túmulo vazio não é prova da ressurreição de Jesus, e os sinais da presença do Ressuscitado não são evidentes, precisam ser sempre discernidos. Simão Pedro e o discípulo amado correm para o sepulcro; Pedro tem precedência, entra primeiro, depois entra o outro discípulo. Ambos viram a mesma realidade, mas ela não teve para os dois o mesmo significado, pois do discípulo que Jesus amava o narrador do evangelho diz que “viu e creu” (v. 8).
Na época de Natal, enquanto contemplamos o Menino Jesus recém-nascido, somos convidados a viver esta mesma fé, a fé plena que São João viveu e transmitiu para todos os seus leitores, inclusive, para nós todos. João é testemunha daquilo que Jesus viveu e fez (1Jo 1,1-4), e nos convida a reconhecermos em Jesus a Palavra do Pai: “No princípio era Verbo e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,1. 14). Ele escreveu seu Evangelho “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31).
A figura do discípulo amado evocava um tipo de relacionamento profundamente afetivo com o Senhor. Relacionamento de confiança, de entrega da própria vida nas mãos do Mestre e de comunhão de sentimentos. Não se tratava, porém, de uma escolha arbitrária de Jesus, privilegiando, uns e marginalizando outros. Antes, foi João que se deixou amar por Jesus e soube corresponder ao amor que lhe fora oferecido. Todos os discípulos poderiam ter feito o mesmo.
Ser discípulo amado, de certa forma depende do próprio discípulo, uma vez que o Mestre quer fazer morada no mais íntimo de cada um de seus seguidores. Deixar-se amar por Jesus comportava deixar-se plasmar e transformar por ele. Por isso, muitos se recusaram!
Ainda hoje devemos nos lembrar de que nós somos discípulos e devemos ser como João, amar e ser amado!
João, seu irmão Tiago e seu amigo Pedro formavam o grupo predileto de Jesus. Os três foram testemunhas diretas da ressurreição da filha de Jairo (Mc 5,37), da transfiguração de Jesus no Tabor (Mc 9,2), de sua agonia em Getsêmani (Mc 14,33). Jesus teve tal predileção por João que este se assinalava a si mesmo como “o discípulo a quem Jesus amava” (Jo 13,23). Na noite da última ceia reclinou sua cabeça sobre o peito do Mestre (Jo 13,23). João é o único que é fiel a Jesus até o ultimo momento da Cruz. Enquanto os demais abandonaram o Senhor no momento da Paixão e morte. Judas vendeu o Senhor, Pedro o negou, João O acompanhava nos últimos momentos de sua vida terrestre, e como prêmio recebeu Maria como sua Mãe e em seu nome a Mãe de toda a humanidade: “Eis a tua Mãe!” (Jo 19,25-27). Paulo, na Carta aos Gálatas, fala de Pedro, Tiago e João “como as colunas” da Igreja (Gl 2,9).
João evangelista é uma pessoa de profunda reflexão, ele escreve com muita profundidade e por isso, o símbolo de seu evangelho é águia, um pássaro que voa alto.
Da leitura da primeira carta de são João usemos um ensinamento de Santo Agostinho, bispo e doutor que diz: O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram do Verbo da Vida – porque a Vida manifestou-se (1Jo 1,1). Haverá quem toque com suas mãos o Verbo da Vida, sem ser porque o Verbo fez-se homem e veio habitar conosco? (Jo 1,14) Ora, este verbo que se fez homem para ser tocado por nossas mãos começou por ser carne no seio da Virgem Maria. Mas não começou a ser o Verbo nesse momento, porque o era desde o princípio, diz São João. Vede como a sua carta confirma o seu evangelho, onde ouvistes ler: No princípio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus.
Talvez alguns entendam o Verbo da Vida como uma fórmula qualquer para designar Cristo, e não precisamente o corpo de Cristo, que as mãos tocaram. Mas vede o seguimento: A Vida manifestou-se. Cristo era então o Verbo da Vida. E como se manifestou esta vida? Porque, embora existisse desde o princípio, não se manifestara aos homens: manifestara-se aos anjos, que a viam e que dela se alimentavam como de pão. É o que diz a Escritura: todos comeram o pão dos anjos (Sl 77,25).
Portanto, a própria Vida manifestou-se na carne: com a sua plena manifestação, uma realidade que apenas era visível pelo coração tornava-se visível também aos olhos, para assim sarar os corações. Porque só o coração vê o Verbo, a carne não o vê. Nós éramos capazes de ver a carne, mas não o Verbo. O Verbo fez-se homem para sarar em nós o que nos torna capazes de ver o Verbo. Dela damos testemunho e anunciamos-vos a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós (1Jo 1,2).
Rezemos com o Salmista: As montanhas se derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; e assim proclama o céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória. Uma luz já se levanta para os justos, e a alegria, pra os retos corações. Homens justos, alegrai-vos no Senhor, celebrai e bendizei seu santo nome! Amém.

Reflexão feita pelo diácono Irmão Francisco 
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: 1 João 1,1-4
Salmo: 96/97
Evangelho: João 20,2-8