O samaritano misericordioso

00011544A Parábola do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), página do evangelho proposta para o 15º Domingo do Tempo Comum, assume uma singular importância no contexto do Ano da Misericórdia que estamos vivendo. No centro do relato encontramos a atitude compassiva de um dos viajantes, diante da surpresa de um homem caído semimorto à beira do caminho. O evangelista Lucas sublinha, várias vezes, a misericórdia como um traço característico de Jesus Cristo e dos seus seguidores. Jesus se fez o Bom Samaritano. Assumiu as dores e o mal da humanidade para curá-las. Fez-se próximo dos doentes e sofredores: visita-os, toca-os, estende a mão, não tem medo de estar com eles. O remédio é o amor compassivo.

Esta parábola ajuda-nos a pensar sobre a solidariedade, a misericórdia e a compaixão. O samaritano se deixa interpelar pela necessidade do outro, não passa adiante, voltado sobre si mesmo e suas preocupações, mas permite se colocar em suas mãos.Também não busca teorias para explicar o ocorrido ou para justificar o fato. O amor misericordioso do samaritano não foi um mero sentimento, mas traduziu-se em atitudes: ver, compadecer, aproximar, curar, colocar no próprio animal, levar à hospedaria e cuidar. Por isso, a figura do samaritano é modelo para toda a vida cristã, na superação da indiferença e insensibilidade. O samaritano é aquele que, em face da necessidade do outro, a assimila e se deixa transformar por ela. Não só porque cuida do ferido e lhe dá abrigo, mas porque o faz em prejuízo dos seus próprios planos iniciais.

A primeira atitude do samaritano foi enxergar a realidade. Ele não ignorou a presença de alguém caído, de alguém que está ferido, sofrendo e que se encontra à margem da estrada. Chegou junto dele, não evitou o encontro. Ele deixou-se afetar pela presença do violentado que jazia quase morto. Bom samaritano é quem se comove diante da desgraça do próximo. Quem tem medo de “tornar-se próximo” não sentirá compaixão. O samaritano deu tudo de si: seu tempo, seu dinheiro e sua montaria. E, no fim, não buscou recompensa pelo bem realizado. Agiu gratuitamente. Nem sequer sabe-se seu nome.

Este é o modo como Jesus amou. Amor “ágape”, que supera todas as outras compreensões de amor. Suas características são a gratuidade e a alteridade. Busca fazer o que é melhor para o outro. Doa-se totalmente para o bem do outro. É um ato de vontade, buscado livremente. É mais do que doar alguma coisa ou uma quantia em dinheiro, é a doação de si. Quando o samaritano viu o ferido não houve atração física (eros), não era um membro de sua família, não era seu amigo (filia) e nada podia lhe retribuir. Então, qual a motivação para ajudá-lo? Simplesmente porque era um ser humano e estava necessitado! A misericórdia é totalmente gratuita.

“Aquele que usou de misericórdia para com ele” (v. 37), se fez seu próximo. O convite é que nos tornemos parecidos com Jesus, o Bom Samaritano. É um caminho que deve ser construído, livremente almejado. Não é instintivo ou espontâneo. Tornar-se próximo, misericordioso, é fruto de uma aprendizagem, sem discriminações, para curar as feridas físicas, morais e espirituais. O convite de Jesus é claro: “Vai e faze a mesma coisa.” (v. 37).

Por Dom Adelar Baruffi – Bispo de Cruz Alta