Ex-porta-voz vaticano recorda Madre Teresa às vésperas de canonização

Joaquín Navarro-Valls, diretor da Sala de Imprensa do Vaticano durante 22 anos, de 1984 a 2005, durante o pontificado de São João Paulo II, publicou algumas reflexões sobre momentos que compartilhou com Madre Teresa de Calcutá, que será canonizada no próximo dia 4 de setembro no Vaticano.

“Há um aspecto de sua figura que expressa a personalidade autêntica de Madre Teresa mais do que qualquer outro e que pude observar nos inúmeros encontros que tive com ela: esse sorriso inocente, como de uma criança, que acendia como uma chama em um rosto sulcado pelos anos”, assegura Navarro-Valls em sua reflexão publicada na página ‘Iglesia em Directo’.

O ex-porta-voz da Santa Sé recorda que em uma ocasião lhe perguntou pelo sentido dessa “empresa sobre-humana”, que é o cuidado dos mais pobres entre os pobres. “E me deu uma resposta inesquecível: ‘Fazer com que as pessoas que viveram maltratadas como animais possam morrer como o que elas são, como filhos de Deus, ou seja: limpos, penteados, alimentados’”.

“Tal afirmação esconde, na minha opinião, a riqueza interior da Madre Teresa de Calcutá: sua espiritualidade prática, humanitária, capaz de se adaptar a qualquer situação e a qualquer cultura, com uma grande dedicação humana”, aponta.

Em outro encontro em 1993, Joaquín Navarro-Valls lhe perguntou “irreflexivamente, o que diria a uma freira que quisesse abandonar seu caminho vocacional. Sua resposta foi imediata: ‘Diria que não tenha medo, agora está com seu Esposo em sua paixão, no Horto das Oliveiras…, mas segue em frente e não desanime!’”.

“Então, não podia imaginar que possivelmente esta era a frase que dizia a si mesma nos momentos de sua aridez interior, durante tantos anos”, assegura.

Além disso, indica que, “certamente, sua convicção religiosa não era fácil de entender, sendo imune à banalidade e à superficialidade. Teresa de Calcutá sabia perfeitamente que a experiência existencial de cada pessoa passa por momentos de dificuldade, momentos de grande aridez e de profunda desolação, mas que tudo isto não é sinal de falta de fé, mas do normal – m seu caso possivelmente heroico – sacrifício que alguém enfrenta quando tenta viver de maneira coerente e profundamente os próprios compromissos e as próprias decisões e não só os necessários para viver uma vocação religiosa específica”.

Nesse sentido, garante que está convencido de que “esse lamento interior da Madre Teresa (…) ajuda a que cada um seja consciente de como, às vezes, é duro o caminho que conduz à realização da própria autenticidade”.

Recorda também que sua próxima canonização “comporta um forte ensinamento existencial: o exemplo de quem seguiu um ideal – em seu caso o da caridade, manifestada de maneira heroica através da autodoação aos excluídos da terra – e o manteve até a morte, apesar de não ‘sentir’ nada”.

“Poderia dizer que a batalha interior que Santa Teresa de Calcutá teve consigo mesma foi outro grande ato de misericórdia, no qual se beneficiaram milhares de pessoas pobres e doentes em todo mundo”, assegurou Navarro-Valls.

Por ACI