Construir a “Civilização do Amor”

amizadeDiariamente chegam notícias de assassinatos de pessoas próximas ou distantes de nós. Com frequência somam-se às mortes individuais as chacinas, como ocorreu no domingo passado nos Estados Unidos. Toda morte, independente da sua motivação, merece repúdio e deve causar indignação. Não há razões que legitimem ou mesmo atenuem a barbárie dos crimes contra a vida.

Escuto, às vezes, pessoas exclamando: “em pleno século XXI isto ainda acontece”. Dando a entender que somos melhores, mais “evoluídos” e mais perfeitos que as pessoas dos séculos anteriores pelo fato de termos mais tecnologia, mais saber científico ou por vivermos no século XXI e não na idade antiga ou média. Estas mesmas tecnologias, quando mal usadas, permitem fazer o mal de forma amplificada. Temos que assumir que não somos melhores nem piores que as gerações anteriores. Temos que admitir que hoje se mata tanto, talvez até mais, que em épocas passadas. Temos que reconhecer que temos dificuldades de educar as pessoas para uma sociedade fraterna.

A antropologia cristã sempre exaltou a grandeza e a dignidade da pessoa por causa da sua imagem e semelhança do criador. Ao mesmo tempo, sempre reconheceu o quadro dramático do pecado das origens. Os textos bíblicos não escondem, nem minimizam os dramas da existência humana. Não escondem as tramas da maldade humana e suas consequências nefastas. Em linguagem religiosa chamamos isto de pecado contra Deus, contra o próximo, contra si mesmo e contra a natureza.

Admitir e reconhecer as intolerâncias, fanatismos, intransigências e falta de amor é condição para a convivência humana. Assumir que esta é a condição humana, não leva à acomodação, nem à justificação dos atos errados. Ao contrário, são estímulo e desafio de superação das mazelas pessoais e sociais. São um apelo ao amor.

“O comportamento da pessoa é plenamente humano quando nasce do amor, manifesta o amor e é ordenado ao amor. Esta verdade vale também no âmbito social: é necessário que os cristãos sejam testemunhas profundamente convictas e saibam mostrar, com a sua vida, como o amor é a única força que pode guiar à perfeição pessoal e social e mover a história rumo ao bem”. (Compêndio da Doutrina Social da Igreja n° 580).

O amor deve estar presente e penetrar todas as relações sociais. O amor pode ser chamado de caridade social ou caridade política e deve ser estendida a todo gênero humano. O amor social é o remédio contra todo o egoísmo e do individualismo que leva a realizar os interesses pessoais e ideias a qualquer custo. Para tornar a sociedade mais humana, mais digna da pessoa, é necessário revalorizar o amor na vida social – no plano relacional, político, econômico, cultural – fazendo dele a norma constante e suprema do agir. Se a justiça é em si mesma apta para servir de árbitro entre os homens na recíproca repartição justa dos bens materiais; o amor, pelo contrário, e somente o amor é capaz de restituir o homem a si próprio.

O amor é a forma mais alta e mais nobre de relação dos seres humanos. Só uma humanidade onde reine a civilização do amor, poderá gozar de uma paz autêntica e duradoura.

Por Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo