A responsabilidade de ser pai

7zarsz7tqiv1jezwsmtsevn66Vivemos tempos diferentes. As grandes mudanças sofridas na sociedade nos últimos anos inquieta muita gente. Há avanços tecnológicos e regressos no cuidado com o ser humano e com a criação. Há conquistas científicas, mas perda da confiabilidade nas instituições, sobretudo políticas. Com a grave crise política a instituição família é a mais afetada. Imposições midiáticas manipulando as consciências humanas, sem escrúpulos, invadindo lares e destruindo a harmonia familiar. A falta de ética nos mais diversos setores da sociedade enfraqueceram a responsabilidade do cuidado pela vida. Diz o Papa Francisco na Exortação pós-sinodal sobre o amor na Família: Diz-se que a nossa sociedade é uma “sociedade sem pais”. Na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, distorcida, desvanecida. Até a virilidade pareceria posta em questão. Verifica-se uma compreensível confusão, já que, em primeiro momento, isto foi sentido como uma libertação: libertação do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e impedimento à emancipação e à autonomia dos jovens. Por vezes, havia casos em que no passado reinava o autoritarismo, em certos casos até a prepotência”. Mas, “como acontece muitas vezes, passa-se de um extremo ao outro. O problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invasora do pai, mas sim a sua ausência, o fato de não estar presente. Por vezes os pais estão tão concentrados em si mesmos e no próprio trabalho ou estão nas próprias realizações individuais que até se esquecem da família. E deixam as crianças e os jovens sozinhos”. A presença paterna e, consequentemente, a sua autoridade são afetas também pelo tempo cada vez maior que se dedica aos meios de comunicação e à tecnologia da distração. Além disso, hoje, a autoridade é olhada com suspeita e os adultos são duramente postos em discussão. Eles próprios abandonam as certezas e, por isso, não dão orientações seguras e bem fundamentadas a seus filhos. Não é saudável que sejam invertidas as funções entre pais e filhos: prejudica o processo adequado de amadurecimento pelo qual as crianças precisam passar e nega-lhes um amor capaz de orientá-las e que as ajude a maturar. ((AL n. 176).

Esta reflexão quer reconhecer a dignidade do “ser pai” e sua importância incondicional para uma família equilibrada e justa. O cuidado, valor evangélico, fortalece no homem o dom de ser pai. A sua presença junto à família, é uma âncora que sustenta e conduz para a felicidade. O retorno aos conselhos evangélicos, do amor, da paz e da justiça, se tornam os meios eficazes para que os pais se sintam seguro junto à família.

Quero felicitar a todos os pais pelo seu dia, e lembrar a linda passagem do Filho Pródigo, em Lucas 15, 11-32, na qual o pai, tomado pela ternura paterna, repleto de amor, coberto de responsabilidade, envolvido de misericórdia, olha distante, na espera do filho desaparecido. O filho sempre é uma figura enigmática, ou perto, ou distante e tantas vezes tão perto e tão distante, mas nunca distante do olhar esperançoso do pai misericordioso. Pai que tem no coração os sentimentos de compaixão, sempre quer o abraço do filho. O abraço vai além. Põe anéis, símbolo da aliança do verdadeiro amor e pertença. Põe chinelos nos pés, pois sempre está pronto para ir ao encontro do filho. Veste roupa nova, porque sempre quer o conforto do sentir-se em casa, seguro, amado, confortável e integrado. O olhar forte do pai não censura o filho, simplesmente acolhe e recolhe para a festa da vida, no seio do lar, com a música da alegria e do regozijo. O pai que está sentado, olhando no horizonte distante, na espera do filho, é a figura de Deus Pai sempre pronto para perdoar, para acolher, para abençoar, para iluminar, para fortalecer, para construir sonhos, para brilhar na mente e no coração da gente.

Deus Pai te abençoe pai, pelo dia dos pais.

Por Dom Severino Clasen – Bispo de Caçador