Terça Feira – 8ª. Semana Comum

Amados irmãos e irmãs

“Muitos dos primeiros serão os últimos, e dos últimos serão os primeiros”.
Para o mundo os critérios são outros no momento de saber quem são os primeiros. Para o mundo os primeiros são os mais ricos, os mais inteligentes, os mais diplomados, os mais poderosos e famosos; mas na ótica do Evangelho os critérios são outros. “Últimos” são os que, pacientemente, com muita fé, vão construindo a história em meio a incompreensões e perseguições; justamente por isto eles serão os primeiros.
Nós também poderíamos repetir as palavras de Pedro e talvez até em tom de cobrança dizer a Deus: Senhor eu deixei tudo para te seguir, só sirvo a ti e agora qual será nossa recompensa?
Deus nunca vai nos chamar para fazer algo para o qual não temos a mínima inclinação, vai pedir de nós uma renúncia, um deixar algo para trás, algo que gostamos muito de fazer. Não é sem dor que deixamos tudo para seguir Jesus; aliás, às vezes nos custa muitas lágrimas; dói demais.
Não vamos receber a vida eterna por causa disto; pois ela não é conquista, é dom de Deus.
Também devemos entender que recompensa não é prêmio ou pagamento; mas simplesmente a alegria do discípulo é seguir Jesus Cristo. Que recompensa maior poderia haver para o amante do que seguir e estar junto do amado.
A recompensa do discípulo é o chamado a seguir Jesus e o próprio seguimento, pois ele permite a graça de viver a vida do Senhor. A recompensa não é acerto de contas por algo realizado e merecido. Na vida cristã a recompensa é um dom de Deus.
Beata Teresa de Calcutá, fundadora das Irmãs Missionárias da Caridade nos ensina que as riquezas, quer sejam materiais ou espirituais, podem asfixiar-nos se não fizermos delas uma utilização adequada. Porque nem o próprio Deus consegue colocar coisa alguma num coração que já está cheio. Mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, reaparece o apetite pelo dinheiro e a avidez por tudo o que o dinheiro pode proporcionar – a procura do supérfluo, do luxo na comida, no vestuário e no entretenimento. As necessidades começam a aumentar, uma coisa atrai a outra. Mas no fim fica-se com um sentimento incontrolável de insatisfação. Permaneçamos tão vazios quanto possível para que Deus possa preencher-nos.
Nosso Senhor é um exemplo vivo disto: logo no primeiro dia da sua existência humana, conheceu uma pobreza que nenhum ser humano alguma vez conhecerá porque, sendo rico, tornou-se pobre (2Cor 8,9). Cristo esvaziou-se de toda a sua riqueza. É aqui que surge a contradição: se eu quiser ser pobre como Cristo, que se tornou pobre embora fosse rico, que devo fazer? Seria uma vergonha para nós sermos mais ricos do que Jesus que, por nossa causa, suportou a pobreza.
Na cruz, Cristo foi privado de tudo. A própria cruz fora-lhe dada por Pilatos; os pregos e a coroa, pelos soldados. Estava nu. Quando morreu, despojaram-no da cruz, retiraram-lhe os pregos e a coroa. Foi envolto num pedaço de tecido dado por uma alma caridosa e foi enterrado num túmulo que não lhe pertencia. E isto quando poderia ter morrido como um rei ou mesmo poupar-se à morte. Mas Ele escolheu a pobreza porque sabia que ela é o verdadeiro meio de possuir Deus e de trazer o seu amor para a terra.
Na leitura da primeira carta de são Pedro nos é ensinado que o mesmo Espírito que falava em Cristo, falou também através dos Profetas do Antigo Testamento, e continua a falar naqueles que proclamam a salvação oferecida a todos na ressurreição de Cristo. Os primeiros cristãos tiveram plena consciência desta realidade e, por isso, investigaram as Escrituras e encontraram nelas a chave do mistério cristão. Iluminados pelo Espírito os pregadores cristãos descobriram essa chave para introduzir-nos no mistério de Cristo. O Senhor ressuscitado está presente e atua na história e devido esta atuação é que somos convidados à vida de santidade e ela é possível a todos os batizados que se tornaram participantes de vida de Cristo.

Rezemos com o Salmista: Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios! Sua mão e o seu braço forte e santo alcançaram-lhe a vitória. O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça; recordou o seu amor sempre fiel pela casa de Israel. Amém.

Reflexão feita pelo Diácono Irmão Francisco 
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: 1 Pedro 1,10-16
Salmo: 97/98
Evangelho: Marcos 10,28-31