Sexta Feira – 22ª. Semana comum

Amados irmãos e irmãs

“Porventura podeis vós obrigar a jejuar os amigos do esposo, enquanto o esposo está com eles? Virão dias em que o esposo lhes será tirado; então jejuarão”.
Os fariseus, além do jejum prescrito pela Lei de Moisés, por ocasião do dia do perdão dos pecados (Lv 16,29-30), jejuavam duas vezes por semana (cf. Lc 18,12). Nas duas parábolas vemos que e o jejum não é abolido, mas reinterpretado. Estamos em um novo tempo inaugurado por Jesus e isto deve levar nosso jejum a um sentido cristológico: é em relação a Cristo, o esposo que o jejum deve ser observado. Vejam que o jejum não é abolido, mas estando na presença d’Ele não devemos jejuar e nisto a Igreja é sábia quando ao orientar o jejum exclui o domingo uma vez que este é o dia do Senhor, dia de vitória e de alegria!
Ele está no meio de nós e conforme sua promessa nos levará consigo para a morada eterna onde já nos preparou um lugar. Para muitos, Jesus ainda está por vir (por ex os judeus); nós cristãos sabemos que Ele já veio e vivo está entre nós. Ele é o vinho novo, mas velho de sempre; pois existe desde toda a eternidade.
Somos chamados a refletir sobre certos exageros e rigorismos em relação a algumas práticas piedosas e penitenciais; pois muitos estão colocando estas práticas como algo prioritário em detrimento do amor e da misericórdia. De que adianta ficarmos duas horas de joelhos, jejuar quarenta dias, peregrinar a não sei quantos santuários, amarrar correntes no corpo e tantas coisas mais se não conseguimos amar nosso irmão? Aliás, tem tantas práticas devocionais nos tempos atuais e muitas delas sequer tem aprovação eclesiástica; portanto muito cuidado irmãos, nossa oração deve ser a mais sóbria possível e muito devocionismo acaba ofuscando o principal que é o amor de Jesus por cada um de nós.
O Catecismo da Igreja Católica §§ 133-134 nos ensina: “O esposo está com eles”. Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus (Rm 8,28). O testemunho dos santos não cessa de confirmar esta verdade. Assim, Santa Catarina de Sena diz aos que se escandalizam e se revoltam contra o que lhes acontece: Tudo procede do amor, tudo está ordenado para a salvação do homem, e com nenhum outro fim. E São Tomás Moro, pouco antes do seu martírio, consola a filha com estas palavras: Nada pode acontecer-me que Deus não queira. E tudo o que Ele quer, por muito mau que nos pareça, é na verdade muito bom. E Juliana de Norwich: Compreendi, pois, pela graça de Deus, que era necessário ater-me firmemente à fé e crer, com não menos firmeza, que todas as coisas serão para bem. E verás que todas as coisas são boas.
Cremos firmemente que Deus é o Senhor do mundo e da história. Muitas vezes, porém, os caminhos da sua Providência são-nos desconhecidos. Só no fim, quando acabar o nosso conhecimento parcial e virmos Deus face a face (1Cor 13,12), é que nos serão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, mesmo através do mal e do pecado, Deus terá conduzido a criação ao repouso desse sábado definitivo em vista do qual criou o céu e a terra.
Na leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios o apóstolo não usa meias palavras; indo direto ao que atrapalhava o caminhar da comunidade, ou seja, a vaidade e eloquência dos pregadores. Por isto ele diz dele mesmo e de outros mensageiros do Evangelho: são apenas “servos de Cristo e administradores dos mistérios de Deus”. Para os dias de hoje podemos afirmar que somos apenas mensageiros e não a mensagem. Neste raciocínio diríamos que o cano não é mais importante do que a água que transporta; o fio não é mais importante do que a energia; a embalagem não é mais importante que o produto, etc. Se o padre é simpático ou não, se o seu discurso é bonito ou não, se ele tem muitos defeitos ou muitas virtudes… O essencial é a mensagem; os mensageiros são apenas veículos mais ou menos imperfeitos dessa mensagem eterna. Os que anunciam o Evangelho devem ter consciência de que não estão a anunciarem-se a si próprios.
Rezemos com o Salmista: Afasta-te do mal e faze o bem, e terás tua morada para sempre. Porque o Senhor Deus ama a justiça, e jamais ele abandona os seus amigos. Amém.

Reflexão feita pelo diácono Irmão Francisco 
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: 1Cor 4,1-5
Salmo: 36
Evangelho: Lc 5,33-39