Sexta Feira – 19ª. Semana Comum

20840770_1409776902440864_763501129366402159_nAmados irmãos e irmãs
“Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda”.
Ao refletir sobre esta página do Evangelho não há como não perguntar: Qual família nos dias de hoje que não tem um filho, tio, sobrinho ou neto, que está em segunda união ou mesmo que esteja em primeira união não possui o sacramento do matrimônio? O que fazer então? Vamos amenizar o assunto para não ofender, uma vez que a palavra adultério é bastante pesada? Ou vamos dar uma de fariseu moralista dizendo doa a quem doer, mas pau é pau e pedra é pedra. Onde fica a caridade pastoral?
O que talvez precisamos entender é que o sacramento do matrimonio é uma Graça santificante e operante, que eleva o amor humano dando lhe a mesma força e grandeza do amor Divino; portanto tudo o que fugir disto não é original.
A palavra adultério deve ser encarada no sentido daquilo que não é original, é parecido, mas não igual (vide chassi adulterado, rótulo, cd, dvd, etc.); ou seja, sem a graça de que falamos não se pode elevar a categoria de sacramento.
Se uma união que não deu certo não puder ser declarada nula pela autoridade da Igreja (Jesus cita isto ao dizer união ilícita ou matrimônio falso), olhemos para o Magistério desta mesma Igreja e de modo especial invocamos aqui a Exortação Apostólica “Familiaris Consortio” de São João Paulo II para que assim possamos acolher com misericórdia todos aqueles que se encontram nesta situação.
A indissolubilidade do matrimônio é um projeto original de Deus e deste projeto a Igreja não pode abrir mão; assim como na defesa da vida encontramos aqueles que matam, mas que se arrependidos voltam ao Senhor dele obterá o perdão. Peçamos ao Senhor a graça de extirpar do nosso meio a mentalidade divorcista e que saibamos acolher com amor e carinho aqueles que porventura se encontram em outra união, mas que queiram viver os princípios do Evangelho.
São Pedro Crisólogo bispo e doutor da Igreja no Sermão 99; PL 52,477 nos ensina: “Nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor”, diz o apóstolo Paulo (1Cor 11,11) . O homem e a mulher caminham juntos para o Reino. Sem os separar, Cristo chama simultaneamente o homem e a mulher, que Deus uniu e que a natureza liga, dando-lhes a partilhar os mesmos gestos e as mesmas tarefas, num acordo admirável. Pelo laço do casamento, Deus faz que dois seres sejam um apenas e que um seja dois, de maneira que cada um descubra um outro eu, que não perde a sua singularidade nem se confunde no casal. Mas por que razão, nas imagens que nos dá do seu Reino, Deus faz que intervenham desta maneira a mulher e o homem? (cf Lc 13,18.21). Porque nos sugere tanta grandeza servindo-se de exemplos que podem afigurar-se-nos fracos e desproporcionados? Irmãos, um precioso mistério se esconde sob esta pobreza. Nas palavras de Paulo: Grande é este mistério: mas eu interpreto-o em relação a Cristo e a Igreja (Ef 5,32).
Tais parábolas evocam o maior projeto da humanidade: o homem e a mulher puseram fim ao processo do mundo, processo que durava há séculos. Adão, o primeiro homem, e Eva, a primeira mulher, são conduzidos, da árvore do conhecimento do bem e do mal, ao fogo . Suas bocas, doentes com o fruto da árvore envenenada, sararão com o sabor caloroso da árvore da salvação; árvore com sabor a fogo, que inflama a consciência gelada pela árvore de outrora. Agora, a nudez perde efeito, já não causa vergonha: o homem e a mulher estão completamente cobertos de perdão.
Na leitura do livro de Josué vemos que este transmite ao povo de Israel a mensagem do Senhor Deus que consiste em delimitar a trajetória desde Abraão, passando por Isaac, Jacó e Moisés; bem como todos os grandes feitos e por fim mostra-lhes que encontraram terra que não lavraram, cidades que não construíram , vinhas e oliveiras que não plantaram , mas que dela se serviram. Assim também nós devemos hoje ouvir a vós do Senhor que nos alerta diante de nossas murmurações que temos o ar que respiramos, a chuva, o sol, o alimento e tudo isto encontramos por pura disponibilidade do Senhor sem que tenhamos que dar nenhuma paga.
Rezemos com o Salmista: Ele guiou pelo deserto o seu povo: porque eterno é seu amor! E feriu por causa dele grandes reis: porque eterno é seu amor! Repartiu a terra deles como herança: porque eterno é seu amor! Como herança de Israel, seu servido: porque eterno é seu amor! De nossos inimigos libertou-nos: porque eterno é seu amor! Demos graças ao Senhor, porque ele é bom: porque eterno é seu amor! Eterna é a sua misericórdia! Amém.

Reflexão feita pelo Diácono Irmão Francisco 
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

1ª. Leitura: Josué 24,1-13
Salmo: 135/136
Evangelho: Mateus 19,3-12