Sexta Feira – 5ª. Semana Comum

6 feiraAmados irmãos e irmãs
“E levantou os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: Éfeta! Que quer dizer abre-te! No mesmo instante os ouvidos se lhe abriram a prisão da língua se lhe desfez e ele falava perfeitamente”.
Na tradição profética, a surdez e a cegueira são figuras da resistência à mensagem de Deus. Paralelamente, no evangelho, são figura da incompreensão e da resistência à mensagem de Jesus.
Na cura do surdo-mudo, Jesus abre primeiro os ouvidos do homem, depois desata sua língua. Com isso, Jesus coloca o homem em situação de escutar primeiro para depois falar.
Na sequência natural das coisas primeiro se ouve e depois se fala. Notem que as crianças aprendem falar porque ouvem; os surdos de nascença são mudos porque como não ouvem e assim não aprendem falar. Daí o provérbio: “Falar com sabedoria é prata, ouvir com amor é ouro”.
A ordem “abre-te” existe porque há dentro de nós algo fechado. O que é que está muito fechado em você que o impede de se comunicar com os demais e com o mundo? Abra seu coração a quem lhe oferece a amizade. Abra-se aos que necessitam de seu carinho. Abra seus ouvidos e mova sua língua para aqueles que necessitam de suas palavras de consolo e de conforto. Quem tem ouvidos novos e os lábios libertados do mal tem também os olhos abertos para os demais, a mão estendida para os necessitados e o coração limpo para testemunhar o verdadeiro amor.
Jesus toca nos sentidos do surdo-mudo para lhe tocar no coração. Abrir o coração – Éfeta! – é a condição para religar os pontos com a vida. O homem precisa de se abrir a Deus, à sua Palavra, ao encontro com Ele, para poder abrir ao encontro com os outros, ao diálogo, às relações com todos.
Hoje quando se fala tanto na necessidade de nossas comunidades retomar o silêncio lembramos que: quem faz o bem não faz barulho. Como dizia o Papa Pio XI: “O bem não faz barulho e o barulho não faz bem”.
Santo Agostinho bispo e doutor da Igreja nos Discursos sobre os salmos, Sl 103,5-6 nos diz: “Afastando-Se com ele da multidão, Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos”. Deus cura todas as tuas enfermidades (Sl 103,3). Não temas, todas as doenças serão curadas. Dirás que são grandes; mas o Médico é maior. Para um Médico todo-poderoso não há doenças incuráveis. Deixa apenas que Ele te trate, não rejeites a sua mão; Ele sabe o que tem a fazer. Não te alegres apenas quando Ele age com suavidade, o aceita quando corta. Aceita a dor do remédio, pensando na saúde que te vai trazer.
Vede, meus irmãos, tudo o que os homens, nas suas doenças, aguentam para prolongar a vida mais alguns dias. Tu, ao menos, não sofrerás por um resultado duvidoso: Aquele que te prometeu a saúde não Se pode enganar. Porque é que os médicos às vezes se enganam? Porque não foram eles que criaram o corpo que tratam. Mas Deus fez o teu corpo, Deus fez a tua alma. Ele sabe recriar o que criou; sabe reformar o que formou. Só tens de te abandonar às suas mãos de médico. Suporta, portanto, essas mãos e bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças nenhum dos seus benefícios. É Ele quem perdoa as tuas culpas e cura todas as tuas enfermidades (Sl 103,2-3).
Aquele que te concebeu para que nunca estivesses doente, se tivesses querido guardar os seus preceitos, não te curará? Aquele que fez os anjos e que, ao recriar-te, te fará igual a eles, não te curará? Aquele que fez o céu e a terra, Ele, que te fez à sua imagem, não te curará? (cf Gn 1,26) Curar-te-á, mas para isso, tens de consentir em ser curado. Ele cura de modo perfeito todos os doentes, mas só se eles quiserem. A tua saúde é Cristo.
Na leitura do livro de Gênesis nos perguntamos: Qual o motivo da proibição de Deus? Esta incerteza gera na consciência humana a dúvida sobre o amor e a bondade de Deus levando o homem a desobediência que é a raiz de todo pecado daí chamar-se pecado original por ser na origem da humanidade e porque dele se origina todos os demais. Não existe pecado que não tenha a desobediência por traz. Ainda hoje a serpente simboliza todos os que insinuam a falsa ideia de que Deus é inimigo da ciência e da liberdade. Como criatura nós homens precisamos entender que Deus é muito superior em todos os sentidos e seria impossível entende-lo com nossa mente limitada. A sedução do pecado nos leva a querer a onisciência (saber tudo), a onipotência (poder tudo); ou seja, ser um Deus!
Rezemos com o Salmista: Feliz o homem que foi perdoado e cuja falta já foi encoberta! Feliz o homem a quem o Senhor não olha mais como sendo culpado, e em cuja alma não há falsidade! Amém.

Reflexão feita pelo Diácono Irmão Francisco
Fundador da Comunidade Missionária Divina Misericórdia

Leitura: Gn 3,1-8
Salmo: 31
Evangelho: Mc 7,31-37